A nossa história tem início no final dos anos 40 e começo dos anos 50 quando meu pai, Ernesto
Akagawa, teve seus primeiros contatos com os peixes ornamentais, influenciado pela amizade
que tinha com a família Takase, que na época já criava peixes na região de São Bernardo do
Campo. Foi a amizade e influência do Sr.Takase que o levou por volta de 1952 a montar a 1°
loja exclusiva de peixes ornamentais em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Luís Antonio,
próximo ao centro da cidade. Existiam algumas lojas que comercializavam peixes, mas não
eram exclusivas, se dedicavam também a outros produtos como jardinagem, plantas, pássaros,
produtos veterinários e etc.. Este início foi modesto e de muitas dificuldades, pois na época
simplesmente não existiam recursos e equipamentos que hoje sabemos serem indispensáveis
para a manutenção dos peixes nos aquários e tudo era feito artesanalmente. Imagine que nos
dias de frio, para não deixar a temperatura dos aquários baixarem muito, acendia-se uma
lâmpada incandescente dentro do aquário e aproveitando o calor gerado pela lâmpada se
conseguia aumentar alguns graus a temperatura do aquário.
O negócio progrediu e da Avenida Brigadeiro Luís Antonio, a empresa mudou-se para a Rua
Augusta, que era um centro comercial já de destaque em São Paulo. A visibilidade que a
empresa conseguiu com essa mudança foi marcante e nesse período surgiram grandes amigos
e hobbistas simpatizantes dos peixes com os quais meu pai manteria contato e amizade até
seus últimos dias. Acredito que foi nessa época também que o Sr.Takase mudou-se para
Belém/PA e estabeleceu por lá uma criação. Meu pai juntamente com os filhos do Sr.Takase,
Renato e Roberto, viajavam para Belém e de lá traziam as primeiras variedades de peixes do
norte, como chilodus, trifasciatus, lápis, limpa vidro e algumas corydoras, variedades que eram
capturadas dentro da cidade de Belém e foram as primeiras espécies a serem vendidas em São
Paulo. Hoje na cidade de Belém praticamente não existe mais nada, pois não só o aumento da
cidade, que cresceu em cima de muitos riachos e locais de coleta, como também, a poluição
do homem acabou com tudo. Quem quer pescar na região tem que percorrer distâncias
maiores rumo ao interior para achar os peixes. Nesta época a viagem de lá para cá equivaleria
talvez aos nossos dias a uma viagem ao redor do mundo. O trajeto dos peixes até aqui era
longo, cansativo e muito rústico, pois a aviação na época assim o era. Os peixes eram
transportados em latões abertos, pois não existiam sacos plásticos apropriados nem o oxigênio
que permite a embalagem dos peixes por muitas horas. O hidroavião Catalina e o DC-3 eram
os aviões que vinham para São Paulo e além de chacoalharem mais que uma batedeira, faziam
inúmeras paradas, o que tornava o percurso quase interminável. Uma vez perguntei ao meu
pai como os peixes chegavam aqui, se chegavam bem ou não, e para minha surpresa a
resposta foi decepcionante, pois a maioria dos peixes não aguentava a viagem e morriam.
Tanto sacrifício e dificuldades para os peixes simplesmente morrerem na viagem… Que
lástima, porém, não havia nenhuma alternativa ou recurso que se pudesse usar para remediar
a situação. Acho que o que os motivavam a irem sempre a Belém em busca dos peixes não era
apenas a finalidade comercial, mas principalmente toda a aventura que envolvia este negócio.
Os anos 60 iniciavam e novamente a loja se mudou agora para perto do Aeroporto de
Congonhas, mais exatamente na Avenida Washington Luís, o que facilitava o trabalho de
chegada e saída dos peixes devido à proximidade com o aeroporto. Foram anos que o
aquarismo no Brasil começou a ver os primeiros equipamentos como o termostato, o
aquecedor e a bomba de ar. Foi neste período também que algumas tentativas de exportação
foram realizadas, porém sem sucesso, pois apesar da aviação ter evoluído com a entrada em
operação dos jatos, as rotas principalmente para a Ásia eram longas demais, o que ocasionava
um índice de mortalidade inaceitável. Como todo começo, nossa experiência era limitada, o
que dificultava a embalagem perfeita dos peixes. Ao mesmo tempo, o mercado nacional
começava a crescer e os primeiros clientes lojistas foram aumentando e consequentemente o
hobby de peixes ornamentais foi se desenvolvendo. Até a metade dos anos 70 apareceram
muitas lojas especializadas em peixes e as primeiras importações aconteceram. Posso afirmar
que uma das primeiras lojas em São Paulo a importar peixes de água doce fomos nós e os
primeiros peixes de água salgada trazidos de Miami foram colocados no mercado por volta de
1975 acarretando num tremendo sucesso e incentivo ao mercado. Todos ficavam admirados
com a beleza e o colorido destes peixes que até então eram novidade para o nosso mercado. A
entrada dos importados nos serviu de exemplo para aprimorarmos nossas embalagens e a
partir disso decidimos entrar definitivamente neste mercado. Nossas exportações iniciaram
com embarques para países como Argentina, Portugal, França, México e Japão. Este tipo de
negócio era novo para todos e muitos dos procedimentos documentais na exportação
envolvendo órgãos públicos como Sudepe, Secretaria da Agricultura e Alfândega foram
desenvolvidos em conjunto com o nosso conhecimento e a colaboração das autoridades
respectivas responsáveis. Por volta de 1968 o nome Netuno Aquarium foi adotado para nossa
empresa e até hoje utilizado como nossa marca. As vendas no mercado local se expandiram
para fora de São Paulo, pois o hobby crescera e se tornava cada vez mais forte ao nível de todo
o Brasil.
O pequeno negócio iniciado no começo dos anos 50 com poucos aquários, sem nenhum
suporte de equipamentos, com peixes criados de forma quase amadora e sem a experiência
necessária para a manutenção perfeita dos peixes evoluiu a ponto de podermos afirmar que
hoje nossa estrutura e conhecimento nos possibilitam fornecer peixes brasileiros para
qualquer cliente localizado em qualquer lugar do mundo. Nossas exportações são embarcadas
para clientes em países de diversos continentes como: Estados Unidos, Canadá, Alemanha,
França, Suécia, Portugal, Espanha, Itália, Áustria, Inglaterra, Rep. Tcheca, China, Japão,
Cingapura, Malásia, Hong Kong e Formosa. Olho para trás e me orgulho por poder participar
de um negócio iniciado pelo meu pai e ver que através de muito trabalho tanto se conseguiu e
se fez para a história do aquarismo no Brasil.
Junio Akagawa